sábado, 20 de março de 2010

Opinião: Rui Vítor Costa


Previsivelmente Irracional

“(…) e os animais ficavam para ali, cheios de moscas, a enterrarem-se sozinhos: quando não se enterra uma coisa viva a coisa sepulta-se sem ajuda, a pouco e pouco.”
António Lobo Antunes. A noite treme in Visão (18.02.10).

Dan Ariely é um investigador israelita na área do comportamento, pertencente aos quadros do MIT (Massachusetts Institute of Technology), prestigiada Universidade norte-americana situada na cidade de Boston. Este cientista desenvolveu recentemente uma curiosa teoria que, basicamente, diz que o homem apesar de ser um ser (inquestionavelmente) racional adopta frequentemente, e de forma absolutamente previsível, comportamentos francamente irracionais desde que tenha o engodo certo.

E a política nacional é, sem dúvida nenhuma, um fértil campo de exemplos para estes comportamentos.
Vejamos então os últimos desenvolvimentos da Face Oculta (cada vez mais escancarada!) na perna do polvo que tem a ver com o controlo da comunicação social.

O que é que se percebe das escutas? Basicamente que um conjunto de homens da confiança do Primeiro-Ministro (PM) se envolveram em manobras para calar jornalistas e meios de comunicação não alinhados ao Governo, envolvendo para isso meios do Estado.

O que é que se esperaria do PM? Provavelmente que o PM dissesse que aqueles senhores que assim falaram agiram mal, descarada e abusivamente, e que continuaria a governar o País de acordo com a vontade expressa nas urnas. Ou então, por outro lado, se fosse o caso, reconheceu que agiu mal e que por isso se demitia. Em qualquer dos casos a atitude tomada seria racional, consequente e responsável.
O que é que aconteceu? O PM veio dizer que a revelação das escutas é ilegal e por isso nada comenta e que tudo não passa de “mais uma” calúnia. Disse que o conteúdo das escutas era falso? Não, não disse. Reduziu o caso, uma vez mais, a uma perseguição pessoal.
O que se esperaria dos altos magistrados da nação? Que dissessem que as escutas eram falsas e os autores de tal falsidade iriam ser processados. Ou então, que o Procurador-Geral da República (PGR) cumprisse uma “vontade” que deixou há uns tempos ao semanário Expresso e divulgasse publicamente as escutas e os seus despachos. Isso seria racional e transparente e permitir-nos-ia aferir da bondade das suas decisões.
O que fez o PGR? Disse que não encontrou nas escutas nenhum “atentado ao Estado de Direito”, que as escutas sem outros meios de prova não são suficientes e que discordava das conclusões que o juiz de Aveiro e o delegado do Ministério Público escreveram. E um caso de tanta gravidade não implicaria que todos nós conhecêssemos as razões dessa discordância? De forma racional e transparente?

Acreditando, como eu acredito, racionalmente, que os políticos como as pessoas não são todos iguais - e ainda bem que não o são – vejamos também o que o PSD nos oferece neste seu processo de escolha de novo rumo e nova liderança.
Marcelo Rebelo de Sousa olhando para a situação do país “esticou a corda” afirmando que estaria disponível para ser líder se o partido o visse como uma solução de consenso e todos os grupos e grupelhos se unissem, ou pelo menos se calassem, em torno de um objectivo maior: o País. Não foi escutado. Foi demasiadamente racional. Exigiu talvez o impossivelmente racional e perante a irracional apatia quase geral, disse adeus.
No terreno perfilam-se então três fortes e credíveis candidaturas que apontam caminhos distintos: Pedro Passos Coelho para “mudar”, Aguiar Branco para “unir” e Paulo Rangel para “romper”.
E o país afinal necessita de quê? Necessita de uma correcção de rumo? Necessita de uma união que pressupõe sempre uma “quadratura do círculo”? Ou precisa de ruptura pura e simples?
Cada um, militante do PSD ou não, fará o seu juízo. Por mim só há um caminho: o da ruptura. E uma ruptura com um homem – Rangel – que tem a capacidade pessoal e a convicção para o fazer; e que veio trazer à política uma visão fresca e nova de quem chega ao serviço público com carreira feita.
A ver vamos se o PSD consegue, como já o fez no passado, ser imprevisivelmente racional.
Eu acredito nessa possibilidade.

Rui Vítor Costa, mandatário concelhio de Paulo Rangel.


Artigo originalmente publicado no jornal Comércio de Guimarães a 23 de Fevereiro de 2010.

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